quarta-feira, 1 de abril de 2009

Pássaro

PÁSSARO

Aquilo que ontem cantava

já não canta.

Morreu de uma flor na boca:

não do espinho na garganta.

Ele amava a água sem seda,

e, em verdade,

tendo asas, fitava o tempo,

livre de necessidade.

Não foi desejo ou imprudência:

não foi nada.

E o dia toca em silêncio

a desventura causada.

Se acaso isso é desventura:

ir-se a vida

sobre uma rosa tão bela,

por uma tênue ferida.

Cecília Meireles (Palavras e Pétalas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário