domingo, 29 de agosto de 2010

Meu Deus, me dê a coragem

Meu Deus, me dê a coragem

Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços meu pecado de pensar.

By Clarice Lispector

ALÉM DA VIDA























ALÉM DA VIDA

Foi lindo enquanto durou...
mas na verdade, ainda permanece...
Apenas você,involuntariamente, se afastou,
sem querer, sem entender, sem me esquecer.


Não há como apagar um amor assim,
retirar com as raízes o que se aprofundou,
caminhou pelas artérias e o coração bombou
Jorrando pelo corpo inteiro sêmen desse amor
Intenso, eterno, verdadeiro...Contaminou.


Não há como sufocar lembranças assim
que de tão vivas passeiam em mim...
Riem, bailam, falam de você...
Relembram a todo instante que não existe fim...


O que nos une exala-se nos ares,
renova os pulmões, preenche os corações ,
entoa as canções que santificam os altares,
vibra e agita os sentidos
que nos fazem perceber
que o que nos encanta vai além da vida
e que a morte é apenas uma fase a percorrer.


By Carmen Lúcia

NAS ASAS DA LEBERDADE

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NAS ASAS DA LIBERDADE

Não resumo minha alma a um só breviário...
Não me importa se é agosto ou setembro
Fujo de regras, imposições ou calendário
Livre, vou e volto de janeiro a dezembro.

Renasço em esperança a cada sol
Velo-me num véu de em fumaça quando me convém
Canto num coral de anjos em cada arrebol
Nas asas da liberdade à alegria digo amém.


Se, cortinas de nuvens impedem minha visão
Desvio o rumo, busco outra direção...
Vôo entre massas polares, contra correntes de vento
Ou faço-me pálida estrelinha no firmamento.


Neste céu ingente de liberdade
Que plena de ousadia fui devassar
Encontrei um pote de mel de felicidade
Que adoça minha vida e renova meu ar.

By Carmen Vervloet

domingo, 22 de agosto de 2010

Amor, Saudade e Esperança




















Amor, Saudade e Esperança

Por uma estrada, um dia, uma criança
Muito loira e risonha, nela andava.
Seu coração, tão cheio de bonança,
O pequenino peito palpitava.


Em uma das mãozinhas segurava um arco de ouro,
E noutra ela trazia setas douradas,
com que costumava ferir os corações, que sempre via


A boca cor de rosa, uma canção muito doce e divina balbuciava.
O canto extasiava o coração.
Era Amor, que cantando, assim passava.
Ele já ia em meio da jornada;
Porém, certa manhã de primavera,
Sentou-se numa pedra dessa estrada,
A meditar no mal que ele fizera.

"Meu Deus! Com essa minha travessura
Não pensei tanto dano assim causar."

E tendo a alma repleta de amargura,
Arrependido,
Amor pôs-se a chorar.

 Nesse instante, porém, uma donzela,
que tinha as vestes verdes cor do mar, parou ali.
E a sua voz tão bela
Procurou o menino consolar.


-"Não chores mais, meu anjo, vem comigo, eu sei o que te causa tanta dor.

É por isso que eu venho ter contigo;
Enxuga esse teus olhos, Deus do Amor!"

-"Eu queria saber - disse a criança - O teu nome... Afinal como é então?"
-"Meu nome é lindo, chamo-me Esperança", respondeu-lhe com toda emoção.
-"Quero ir contigo, pela estrada afora,
Consolar esses pobres corações;

Eles sofrem por tua causa agora e choram as perdidas ilusões".
E os dois partiram, com as mãos unidas,
Sorrindo ia a Esperança a consolar.

Caminhavam assim, por avenidas,
que um sol ardente vinha iluminar.
Por muito e muito tempo eles andaram,
Até que enfim, em uma encruzilhada,
Cansados, Esperança e Amor pararam,
Estavam quase ao término da jornada.

Ali tudo era belo... Bem distante
Erguiam-se montanhas azuladas.
Aos seus pés, a água clara e murmurante
Passava sob as flores perfumadas.

Traído Amor e a Esperança,
Embevecidos,o céu de anil ficaram a fitar.
E como ambos estavam distraídos, não Sentiram alguém se aproximar.

"Aqui estou eu", falou uma voz dolente
Que também traduzia a ansiedade,
"Meu nome é triste - disse docemente - Mas é bem lindo, eu sou a Saudade.
- "Os corações, que tu Amor, feriste, Agora estão cansados de chorar".
- "Tu, Esperança, tanto os iludiste!...
Pra que foi que os fizeste em vão sonhar?"
-"Ficai! Que junto aos pobres desgraçados
Saberei preencher vosso lugar"

-"Eles hão de sorrir mais consolados;
Junto deles eu sempre hei de ficar".
-"E há de então repassar-lhes pela mente o passado, que outrora os fez sonhar.
-"Quem sabe se mais lindo e mais sorridente,
Porque com Saudade hão de evocar!"

 Assim é a vida. Amamos e sentimos
A Esperança afagar o coração;
Porém bem cedo nos desiludimos.


Junto a nós Saudade fica então.

By  Diléia Prado

domingo, 15 de agosto de 2010

Meu Mundo

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Meu Mundo



Queria nesse momento ir buscar você
Mas.......
Novamente encontro me nessa estrada, estrada do sofrimento
Se estamos juntos o mundo passa por uma incrível turbulência
Quando estamos longe, nos amamos loucamente, é insano
Sinto o cheiro de seus cabelos como se estivesse ao meu alcance
Debato-me entre a razão e a ilusão, chego a sentir sua presença
E quase como soubesse disso, você me chama com veemência
Aproveita e faz de mim a mais desprezível das criaturas
Me acoita e me chama de amor, me derruba e me Poe no céu
Sussurra com a voz toda carregada de ternura, vem me amar
Desesperadamente entro em conflito com a parte louca de mim
Jogo-me em teus sonhos te procuro e não te vejo
Já não sou mais eu nem sei de mim, só penso você
Já sem caminho sem porto, sem esperança sem estrada
Vou seguir te buscando..... entre a cruz e a espada.

By Valmir Sambo

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Poema Anjo (parte I)



















Poema Anjo (parte I)

Hoje eu acordei mais cedo
E fiquei te olhando dormir
Imaginei algum suposto medo
Para que tão logo pudesse te cobrir
Tenho cuidado todo esse tempo
Você está sob meu abraço e minha proteção
Tenho visto você errar, crescer, amar e voar
Você sabe onde pousar.

Ao acordar já terei partido
Ficarei de longe escondido
Mais sempre perto, decerto
Como se fosse humano, vivo
Vivendo pra te cuidar
Te proteger
Sem você me ver
Sem saber quem sou
Se sou anjo
Ou se sou
Seu amor

By Saulo (banda eva) adaptado por João Paulo

Vendaval



Vendaval


Ó vento do norte, tão funso e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!

Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!

Mas dura planície,praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.

Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles, teu pulso de vida
Minh’alma do mundo!

Ah, se como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar
Fosse pr’onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!

Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver
Porque é que não entras no meu pensamento
Para ele morrer?

Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, é vento; do chão da existência,
De ser um lugar!

E, pela noite que fazes mais’scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.

E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!

Meu coração triste,
meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!
Vendaval
Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!

Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!

Mas dura planície,praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.

Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles, teu pulso de vida
Minh’alma do mundo!

Ah, se como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar
Fosse pr’onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!

Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver
Porque é que não entras no meu pensamento
Para ele morrer?

Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, é vento; do chão da existência,
De ser um lugar!

E, pela noite que fazes mais’scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.

E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!

Meu coração triste,
meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!

By Fernando Pessoa

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ao Amor Antigo

 

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Ao Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

By  Carlos Drummond de Andrade

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Acreditar

Senti uma brisa no rosto, que tinha teu gosto.
Passou bem de leve, foi muito breve,
meu coração afagou.
Senti uma gota de chuva percorrer minha face,
deixando-me num impasse, se...lágrima de amor.
Senti um arrepio no corpo, pedindo conforto,
querendo teu calor.
Senti o coração apertado pulsar disparado,
tentando saltar.
Estranha sensação acalentou o coração,
fazendo-me sonhar!
Senti minha boca sorrir e, os lábios, abrir,
querendo te beijar.
Senti que era pouco e delirei como louco,
pensando te tocar.
Tendo-te, então, com imensa paixão.
Como foi bom acreditar!

By Silvia Munhoz